Philip K. Dick
Philip Kindred Dick ou Philip K. Dick (Chicago, 16 de dezembro de 1928 — Santa Ana, 2 de março de 1982), também conhecido pelas iniciais PKD, foi um escritor norte-americano de ficção científica que alterou profundamente este gênero literário, explorando temas políticos, filosóficos e sociais, autoritarismo, realidades alternativas e estados alterados de consciência. Seus escritos refletiam seus interesses em metafísica e teologia e em muitas vezes questionou a realidade e a ordem estabelecida, identidade, uso e abuso de drogas, transtornos mentais e experiências transcendentais. Apesar de ter tido pouco reconhecimento em vida, a adaptação de vários dos seus romances ao cinema acabou por tornar a sua obra conhecida de um vasto público, sendo aclamado tanto por leitores como pela crítica. Em 1993, Emmanuel Carrère reconstruiu a vida do escritor norte-americano em Eu Estou Vivo e Vocês Estão Mortos, livro feito a partir de outra biografia, previamente publicada, e no trabalho de ficção de Dick - além de um grupo pequeno de entrevistados. O livro foi lançado em 2016, no Brasil, pela Editora Aleph.[1] Nascido em Illinois e tendo se mudado para a Califórnia, começou a publicar ficção científica ainda nos anos 1950. Inicialmente, seus contos e novelas não tiveram sucesso comercial.[2] Foi em 1962 que seu livro O Homem do Castelo Alto foi aclamado pela crítica, ganhando inclusive o Prémio Hugo de melhor livro.[3] Ao todo, Philip produziu 44 livros, cerca de 121 contos, a maioria deles publicados em revistas especializadas ainda em vida.[4] Depois de uma experiência religiosa que o marcou profundamente em fevereiro de 1974, Philip se aventurou em temas explicitamente teológicos, como no caso do livro VALIS (1981).[5] Vários de seus livros foram adaptados para o cinema e para a televisão, como Blade Runner (1982 e 2017), Total Recall (1990 e 2012), Minority Report (2002),[6] e The Man in the High Castle (2015). Em 1982 foi criado o Philip K. Dick Award, que premia as melhores obras originais de ficção científica publicadas em formato paperback.[7] BiografiaPrimeiros anosPhilip Kindred Dick e sua irmã gêmea Jane Charlotte Dick, nasceram prematuros, seis semanas antes do prazo previsto, em 16 de dezembro de 1928, em Chicago, filhos de Dorothy Kindred (1900–1978) e Joseph Edgar Dick (1899–1985), funcionário federal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.[8][9] Seus avós eram originalmente irlandeses. A morte de Jane, algumas semanas depois, em 26 de janeiro de 1929, afetou profundamente a vida de Philip e até virou tema de um de seus livros.[8] Posteriormente, a família se mudou para a região da baía de San Francisco. Quando Philip tinha 5 anos, seu pai foi transferido para Reno, Nevada, mas Dorothy se recusou a se mudar mais uma vez e o casal acabou se divorciando. Os pais acabaram brigando pela custódia de Philip, que acabou ficando com a mãe. Dorothy estava determinada a criar o filho sozinha e conseguiu um emprego em Washington, D.C., para onde se mudou com ele. Philip estudou de 1936 a 1938 na Escola de Ensino Infantil John Eaton, tendo pulado séries e tirado boas notas.[10] Em junho de 1938, Dorothy e o filho voltaram para a Califórnia e foi por volta dessa época que ele começou a se interessar por ficção científica. De acordo com Philip, em 1940, aos 12 anos, ele leu sua primeira ficção científica, na revista Stirring Science Stories.[9] Philip se formou em 1947 na Escola Secundária de Berkeley, local onde ele e Ursula K. Le Guin, também escritora norte-americana, eram da mesma classe, mas ainda não se conheciam. Depois da formatura passou rapidamente pela Universidade da Califórnia em Berkeley, de setembro a novembro de 1949, abandonando o curso para trabalhar como um DJ numa emissora de rádio, mantendo, ao mesmo tempo, uma loja de discos. Lá estudou história, psicologia, filosofia e zoologia. Devido seus estudos de filosofia, passou a acreditar na existência de uma base para a percepção humana, que não necessariamente correspondia à realidade externa. Segundo suas crenças, o universo seria uma extensão de Deus.[9][10] Após ler os trabalhos de Platão e de ponderar sobre as possibilidades de realidades metafísicas, Philip chegou à conclusão que, de certa maneira, o mundo não é inteiramente real e que não há maneira de confirmar se o mundo existe de verdade. A questão acabou se tornando um ponto chave em diversos de seus livros.[9] Philip acabou desenvolvendo crises de ansiedade de acordo com a biografia de sua ex-esposa, Anne.[10] EscritaPhilip vendeu sua primeira história em 1951 e passou a se dedicar integralmente à escrita. Durante o ano de 1952, várias de suas primeiras produções na ficção especulativa começaram a aparecer nas edições de julho e setembro de Planet Stories, editado por Jack O'Sullivan, e nas revistas If e The Magazine of Fantasy and Science Fiction. Seu livro de estreia foi Solar Lottery, publicado em 1955, junto de The Big Jump, de Leigh Brackett. A década de 1950 em si não foi muito próspera para Philip, tendo publicado muita ficção científica, mas sonhando com uma carreira popular e que lhe rendesse o suficiente para viver.[11] Ele produziu muitas obras convencionais, mas que não tiveram muito êxito. O sonho de se tornar um escritor de sucesso acabou morrendo em janeiro de 1963, quando o agente literário Scott Meredith lhe devolveu todos os livros não vendidos. Somente um deles foi vendido e publicado durante a vida de Philip.[8][10] Em 1963, Philip ganhou o Prémio Hugo por O Homem do Castelo Alto, mas mesmo depois de ser reconhecido como um dos grandes nomes da ficção científica, no meio literário que não apreciava a FC, ele não era conhecido e acabou fazendo, nos anos seguintes, publicações de baixo custo em editoras menores. Mesmo em seus últimos anos, ele continuava com problemas financeiros.[12] Em sua coletânea de contos The Golden Man, de 1980, ele escreveu:
Paranormalidade e problemas mentaisEm 20 de fevereiro de 1974, Philip se recuperava dos efeitos causados pelo tiopental, após a extração de um dente siso. Ele então recebeu dextropropoxifeno de uma moça que bateu em sua porta, para fazer a entrega da farmácia. Ele a achou muito bonita, de cabelos escuros, mas ficou atraído pelo colar que ela usava, com forma de peixe. Segundo ela, era o símbolo usado pelos primeiros cristãos.[13] Ele chamou o símbolo de "vesicle pisces", juntando o termo vesica piscis com o símbolo do peixe cristão (Ichthys), com dois arcos interseccionais delineando um peixe.[13] Mais tarde, Philip contaria que o sol refletiu no pingente de ouro da moça, causando um raio rosado de luz que o espantou. Ele acabou acreditando que o raio acabou lhe despertando a clarividência e que tinha inteligência. Em um momento, Philip disse que o raio o informou que seu filho pequeno estava doente e o casal levou a criança ao hospital, onde a suspeita teria sido confirmada.[14] A partir daí, Philip começaria a ter alucinações, que ele teria atribuído inicialmente aos efeitos da medicação para dor depois da extração do siso, mas desconsiderou a hipótese após várias semanas de contínuas alucinações. Em fevereiro e março de 1974, ele teve uma série de alucinações, algumas com padrões geométricos, outras em que via Jesus na Roma Antiga. Elas aumentaram em frequência e duração, onde Philip afirmava que vivia uma vida paralela, onde em uma vida ele era Philip K. Dick, na outra era Thomas, um cristão perseguido pelos romanos no século I d.C. Ele escreveu sobre tais experiências, primeiro em uma autobiografia, chamada Radio Free Albemuth e depois em VALIS, The Divine Invasion e no não finalizado The Owl in Daylight.[14] Em 1974, ele escreveu uma carta ao FBI, acusando várias pessoas, como o professor Frederic Jameson, da Universidade da Califórnia em San Diego, de serem agentes estrangeiros a serviço do Pacto de Varsóvia. Ele também escreveu que Stanislaw Lem era provavelmente um nome falso usado por um comitê operando sob ordens do Partido Comunista para obter controle sobre a opinião pública.[15] Em um determinado momento, ele sentiu que tinha sido possuído pelo espírito do profeta Elias e em seu livro Identidade perdida - O homem que virou ninguém é uma nova interpretação detalhada de uma história bíblica em Atos dos Apóstolos, que ele nunca teria lido.[16] Philip documentou e discutiu várias de suas experiências em um diário íntimo que ele chamou de "exegese", que foram posteriormente publicadas como The Exegesis of Philip K. Dick.[8][10] Vida pessoalPhilip foi casado cinco vezes:
Ele também teve três filhos:
Em 1955, sua segunda esposa e ele receberam a visita do FBI, provavelmente pelas atividades de esquerda e visões socialistas de Kleo. Com sua terceira esposa, Philip chegou a ser violento após uma discussão, em 1963, onde ele tentou jogá-la de um penhasco e depois alegou que ela é quem tentou matá-lo e conseguiu convencer um psiquiatra a interná-la contra sua vontade. Depois do divórcio, em 1964, ele se mudou para Oakland, onde foi morar com uma fã, Grania Davis.[8][10] Pouco depois, ele tentou o suicídio, dirigindo enquanto levava Grania no banco do passageiro.[17] Philip tentava ficar longe do cenário político especialmente depois das intensas discussões a respeito da Guerra do Vietnã, mas ele demonstrava alguns sentimentos antiguerra e antigoverno. Em 1968, ele se juntou ao "Writers and Editors War Tax Protest",[18] um protesto contra o pagamento de impostos que seriam revertidos para a guerra, mas que resultou no confisco de seu carro pelo Imposto de Renda.[8][10] MorteEm 17 de fevereiro de 1982, depois de uma entrevista, Philip ligou para seu terapeuta, reclamando de não conseguir enxergar direito. Seu terapeuta o mandou procurar um hospital imediatamente, mas ele não foi. No dia seguinte, Philip foi encontrando inconsciente e caído no chão em sua casa, em Santa Ana, Califórnia, depois de sofrer um AVC. Em 25 de fevereiro de 1982, já no hospital, ele teve outro AVC, que o levou à morte cerebral. Cinco dias depois, os aparelhos que o mantinham vivo foram desligados e ele veio a falecer.[12] Seu pai, Joseph, levou as cinzas de Philip para o cemitério Riverside, em Fort Morgan, Colorado, onde o enterrou ao lado do túmulo de sua irmã gêmea Jane.[19] Lista de obrasRomances
ContosPhilip K. Dick escreveu cerca de 130 contos, alguns dos quais republicados em colectâneas. Na língua portuguesa, estão publicadas as seguintes:
AdaptaçõesCinema
TV
Ver tambémReferências
Ligações externas
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