Milton Dias
Milton Dias foi um futebolista brasileiro nascido no Espírito Santo.[1] Destacou-se como jogador do Paysandu, sobretudo na recordada partida em que o clube paraense venceu por 3–0 o Peñarol em 1965, acabando por ser comprado pela própria equipe uruguaia,[2] na época uma das mais fortes do mundo e na qual marcara um gol e fornecera uma assistência naquela partida.[3] Posteriormente, destacou-se no futebol da Venezuela, país onde radicou-se após encerrar a carreira em 1983 e morreu em junho de 2007, na cidade de Valencia.[4] Era negro,[3] não devendo ser confundido com outro atacante chamado Milton Dias, mulato, que atuou na década de 1960 por São Paulo e Athletico Paranaense e que morreu em 16 de dezembro de 2006.[5] CarreiraPaysanduMilton Dias veio ao Paysandu proveniente das categorias de base do Botafogo, onde estava em 1963.[1] Em 13 de setembro de 1964, marcou seu primeiro gol pela equipe paraense, em empate em 2–2 contra o Avante, pelo estadual daquele ano.[6] Em 14 de outubro, estreou no clássico Re-Pa, em amistoso pelo Torneio Quadrangular Interestadual. Escalado na meia-esquerda, marcou o único gol da partida.[7] O clube, porém, terminaria o estadual fora da finalíssima, decidida entre os rivais Remo e Tuna Luso.[8] O Campeonato Paraense de Futebol de 1965 começou apenas em 20 de junho.[9] O primeiro semestre foi ocupado com amistosos, com Milton Dias chegando a marcar em dois clássicos com a Tuna (duas vitórias por 2–1, em fevereiro e março). O "Papão" também disputou e venceu, em abril, o Torneio Quadrangular Internacional, a reunir Fast, Fortaleza e Transvaal. Milton Dias foi o artilheiro da competição, com quatro gols,[10] três deles na vitória de 3–1 sobre o Transvaal.[6] No mesmo mês, voltou a marcar no Re-Pa, em derrota de 3–2 pelo "Torneio da Paz". Estava atuando como centroavante.[11] No Estadual, atuou normalmente na ponta-direita, em ataque que completava com Milton Marabá, Edson Piola, Vila e Ércio.[9] Em meio à competição, houve novo Re-Pa para marcar a estreia do veterano Castilho como goleiro do Paysandu. O arquirrival venceu por 3–0, em 1 de julho.[11] Porém, dezoito dias depois, em 19 de julho, os alviazuis aplicariam o mesmo placar sobre o Peñarol.[6] Até lá, o Paysandu havia jogado três partidas pelo Estadual, ganhando-as todas por goleada - 4–0 no Júlio César, 6–1 no Liberato de Castro e 5–1 no Combatentes. Milton Dias foi titular em todas elas, mas não chegou a marcar em nenhuma.[9] Contra os uruguaios, contudo, realizou o que foi considerado o "jogo da sua vida".[2] O adversário era uma equipe das mais poderosas mundialmente na época,[12][13][14] mantendo uma invencibilidade de treze partidas, com recentes vitórias contra brasileiros naquele ano sobre Santos (3–2, após derrota de 5–4, e 2–1, todos pela Taça Libertadores da América de 1965) e Fluminense (3–1 em amistoso no Maracanã).[15] Os paraenses, porém, já venciam por 1–0 quando Milton Dias, aos 43 minutos do primeiro tempo, recebeu de Edson Piola e acertou um chute cruzado no alto de Ladislao Mazurkiewicz,[3] completando para o gol vazio após o colega ter atraído a marcação - em outras fontes, o passe teria sido de Pau Preto.[16] Aos 37 minutos da etapa complementar, Milton lançou bola para o próprio Pau Preto, deixado frente a frente com Mazurkiewicz, marcar o terceiro gol.[3] A vitória por 3–0 repercutiu bastante além de Belém do Pará; no Rio de Janeiro, o Jornal dos Sports descreveu o gol de Milton Dias como "espetacular";[1] Nelson Rodrigues escreveu uma crônica sobre a partida para O Globo;[3] e o Botafogo tentou reaver o passe de Milton Dias, de imediato desejado pelo Peñarol, cujo treinador Roque Máspoli insistia na contratação do capixaba,[1] requerida por telegrama.[2] Três dias depois, ele chegou a figurar em novo bom resultado contra os uruguaios, que só aos 42 minutos do segundo tempo conseguiram empatar em 1–1 contra um combinado entre Paysandu e Tuna; nessa ocasião, entrou no decorrer da partida, substituindo o tunante Mário.[16] Milton Dias jogou mais uma partida pelo Estadual, precisamente no Re-Pa, realizado em 1 de agosto. O "Papão", que asseguraria o título já em novembro, dessa vez venceu por 1–0.[9] Cerca de dez dias depois, a venda do jogador aos aurinegros estava anunciada,[1] em transferência que seria comparada à de Iarley pelo Boca Juniors em função dos duelos pela Taça Libertadores da América de 2003. Abílio Couceiro, então diretor de futebol alviazul em 1965, descreveria que "levei o Milton Dias na loja masculina mais chique de Belém, embonequei ele, dei um brilho no dente dele e o levei para o Rio de Janeiro, onde o empresário uruguaio estava esperando".[2] A contratação foi acertada em 12 mil dólares.[1] Não houve hesitação do Paysandu em vendê-lo pois Milton era visto como um jogador mediano que terminara "craque de um jogo só", embora na história: o triunfo inspirou até marchinha que terminaria mais popular como cântico do que o hino oficial do clube.[2][16] O clube também manteve hábito de buscar talentos nos juvenis de times cariocas, trazendo dos aspirantes do Vasco da Gama os ídolos Robilotta (no fim de 1965) e Bené (no início do ano seguinte), que se converteriam na mais efetiva dupla ofensiva da história do time e do futebol paraense.[17][18] Pós-PaysanduEncantado com o desempenho de Milton Dias naquele amistoso, o treinador aurinegro Roque Máspoli via nele uma alternativa viável ao desfalque do artilheiro Alberto Spencer, que se ausentaria continuamente por compromissos com a seleção equatoriana nas eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 1966. O brasileiro chegou a Montevidéu mediante assinatura de um contrato de dois anos, com luvas em 7 milhões de cruzeiros e salários de 200 mil cruzeiros mensais, além de casa e alimentação. Máspoli havia reiterado o desejo pelo jogador mesmo após ser comunicado de tratativas feitas em paralelo pelo representante do clube com outros brasileiros na época.[1] O clube foi campeão uruguaio daquele ano com Milton Dias presente no elenco,[19] mas terminou não vingando pelo Peñarol.[2][20] A alternativa mais assídua aos desfalques de Spencer terminou sendo o argentino Miguel Reznik,[15] que já havia participado daquele amistoso em Belém do Pará.[3] Milton também integrou o elenco campeão da Taça Libertadores da América de 1966, mas sem entrar em campo.[16][21] Chegou a ser emprestado ao Fénix.[2] Em junho de 1967, Milton, ainda com 21 anos de idade, voltou ao Rio de Janeiro para acertar com o Fluminense.[22] Possuía o próprio passe e veio para testes.[23] Porém, suas atuações foram avaliadas como negativas pelo treinador argentino Alfredo González,[24] embora tenha marcado um gol nas duas partidas em que atuou pelo "Tricolor", contra equipes modestas.[25] Dali fez testes no Bangu.[26] Milton Dias faria sucesso no futebol da Venezuela, onde chegou no início da década de 1970, defendendo Valencia, Estudiantes de Mérida, Deportivo Galicia, Portuguesa e Zamora. No Valencia, foi campeão venezuelano em 1971,[27] na primeira vez que o clube obteve o título.[28] Em 1972, integrou o elenco do Estudiantes na primeira temporada deste clube na primeira divisão, ao lado de outros dois brasileiros, Cassiano e Edgar Pereira.[29] Em 1980, foi juntamente com outros brasileiros (Ademir de Jesus Lobo, Artinho d'Almeida Lima e Jairo Machado) campeão da Copa Venezuela com o Zamora, no que foi o primeiro título profissional do clube e da cidade de Barinas, com a data da conquista virando "o dia do futebol barinês".[30][31] O jogador parou de jogar em 1983, no Zamora. Radicou-se na Venezuela e lá morreu na cidade de Valencia, em 11 de junho de 2007.[27] Títulos
Referências
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