Domingos José de Almeida Lima (Bahia[1], ? - Portugal, 1848) foi um traficante de escravizados brasileiro.
Tráfico negreiro
Domingos José de Almeida Lima atuou no comércio de escravizados africanos entre 1806 e 1822, realizando, no total, 13 viagens que lhe trouxeram grande fortuna. Era matriculado na praça da Bahia[2]. Possuia diversas embarcações utilizadas exclusivamente na viagem negreira, como o Scipião Africano, S. José Diligente, Boa Hora, Lusitânia e Toninha[3][4].
Ele realizava o sequestro de africanos da baía do Biafra, do Golfo de Guiné, da Baia do Benin e da África Centro-Ocidental. Ana Paula de Oliveira (2015), realizou o trabalho de organizar as viagens de Almeida Lima em uma tabela:
Viagens de Almeida Lima entre 1807 e 1822[3]
Nome da embarcação
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Ano
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Proprietário
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Principal região onde os cativos foram comprados
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Scipião Africano
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1807
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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Scipião Africano
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1807
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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S. José Diligente
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1809
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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Scipião Africano
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1809
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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Scipião Africano
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1810
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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Scipião Africano
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1811
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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Santa Flor da África
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1811
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Almeida Lima conjuntamente a Antônio Ferreira Coelho
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Baía do Benin
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Boa Hora
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1814
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Almeida Lima
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África centro Ocidental
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Lusitânia
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1817
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Almeida Lima
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Baia do Biafra e Golfo do Guiné
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Lusitânia
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1819
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Almeida Lima
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Baía do Benin
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Toninha
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1820
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Almeida Lima
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Baia do Biafra e Golfo do Guiné
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Toninha
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1822
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Almeida Lima
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África centro Ocidental
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Além disso, Lima foi também consignatário de dezenas de navios espanhóis que aportavam na Bahia, entre 1814 e 1818. Entre eles o Nova Ana, União, Catalunha, S. José, Trindade, Segundo Campeador, Currupaco, Fama Navarrina, Jano e Fortuna[4]. E estava envolvido na política portuária baiana, tendo sido incentivador e financiador da obra de construção do Edifício da Praça do Comércio em 1811. Essa obra, muito além da construção do edifício, ampliou o cais de Salvador e demoliu o forte de São Fernando[2].
Enriqueceu exponencialmente e parece ter ganho prestígio na corte. Ocupou o posto de primeiro tenente do sétimo regimento do Real Corpo de Artilheiros Milicianos Guarda Costa do Príncipe Dom Pedro. Essa entidade foi criada por D. João em 1811, e os oficiais eram escolhidos a dedo pelo Conde de Arcos, que agraciava os mais ricos proprietários e negociantes com algum posto[2].
Aposentadoria
Ao que tudo indica, depois de 1822 ele passou a residir em Portugal. Lá comprou a Quinta do Paço do Lumiar e a Quinta da Cardiga, a última sendo arrematada por 200 contos[5].
Seus negócios, todavia, não pararam. Em 1843, instalou na Cardiga o primeiro sistema de moagem de azeitona de Portugal com galgas movidas por máquina a vapor de alta pressão. Além disso, foi sócio fundador da Companhia das Lezírias do Tejo e Sado, que iniciou suas atividades em 1836 com 2000 contos e mais de 100 acionistas. Se destinava a produção agrícola, contando com 48 mil hectares de extensão. Lima foi o primeiro presidente da instituição[6][7].
Ele teria falecido por volta de 1848. Era casado com Ana Maria dos Reis e teve dois filhos, Joaquim José e José Joaquim[8].
Referências
- ↑ «REQUERIMENTO do negociante, natural da Baía, Domingos José de Almeida Lima ao rei [D. João VI], solicitando alteração do passaporte com destino à Baía, dado nele constar um criado preto que deixou na América. - Arquivo Histórico Ultramarino». digitarq.ahu.arquivos.pt. Consultado em 24 de julho de 2023
- ↑ a b c Jesus, Paulo Cesar Oliveira de (2020). Mantendo o curso: restrições, subterfúgios e comércio da escravatura na Bahia (1810-1817) (PDF). Salvador: Universidade Federal da Bahia, Tese de doutorado. 195 páginas
- ↑ a b Carvalho, Ana Paula de (2015). Nos limites do tráfico de escravos: o caso da escuna Emília e o processo de extinção do comércio de almas no Brasil (1808-1850). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Dissertação de mestrado. 123 páginas
- ↑ a b CARVALHO, Ana Paula de Oliveira (2015). «Correspondências negreiras: uma análise das epístolas apreendidas na escuna Emília: repressão, ligações comerciais, e anseios no processo de abolição do tráfico de escravos no Brasil.» (PDF). ANPUH. XXVIII Simpósio Nacional de História. Consultado em 24 de julho de 2023
- ↑ Poitout, Manuela (25 de abril de 2021). «MANUELA POITOUT | As extravagâncias do Almeida Lima da Cardiga e o convívio com Marie Duplessis | EOL - EntroncamentoOnline». Consultado em 24 de julho de 2023
- ↑ Madaleno, Isabel Maria (2006). «História econômica da Companhia das Lezírias». História Econômica & História de Empresas (2). ISSN 2525-8184. doi:10.29182/hehe.v9i2.112. Consultado em 24 de julho de 2023
- ↑ «Processo sobre o requerimento de Domingos José de Almeida Lima, em representação dos directores da Companhia das Lezírias do Tejo e Sado.». ahm-exercito.defesa.gov.pt. Consultado em 24 de julho de 2023
- ↑ [https://arquivohistorico.ministeriopublico.pt/index.php/yarw-rhfb-f8xb;is
ad?sf_culture=es «"Em Officio do Ministerio do Reino de 3 de Novembro ultimo sobre a transação proposta pelos herdeiros de Domingos Jose de Almeida Lima aos Legados deixados a Casa Pia no Testamento de Antonio Ferreira Coelho" - PGR»]. arquivohistorico.ministeriopublico.pt. Consultado em 24 de julho de 2023